A Fraude é um romance construído em dois planos: o plano da realidade humana e o plano abstracto dos deuses clássicos. No plano da realidade, a história segue a fulgurante carreira literária do poeta Querubim, desde o anonimato até à posição invejável de melhor criador de todos os tempos. É um mundo curioso, este onde se move o poeta, pois nele as obras artísticas são analisadas através de algoritmos de computador que definem com precisão o valor que cada uma tem, e, portanto, a sociedade que se nos apresenta dispensou os críticos literários e as ambiguidades da interpretação literária. O sucesso de Querubim tem um segredo: sem o saber, ele é inspirado por Vénus, que lê os seus versos, desce do Olímpo e se envolve com o poeta ao encarnar no corpo de Diana, a vice-presidente, intelectual e culta, do laboratório que analisa os seus dados, induzindo desse modo a criação de obras sublimes. A narrativa segue em estilo directo, irónico e cinematográfico, quando descreve as acções humanas, mas torna-se lírica e intimista ao observar os deuses do Olimpo, em especial Vénus e as suas tentativas de tornar admissível, aos olhos de Júpiter, o seu amor proibido por Querubim, a sua procura de fazer dele mais do que a fraude dos seus sonhos.
